Queria poder, mas não posso.... Quando o verbo é precedido pelo
"não" tudo muda e com ele muda o destino e a vontade de fazer
diferente. Só são dois se a sua conta for a mesma, se o sinal de somar estiver
entre os dois... Se não são somas de duas partes diferentes e... Queria poder, mas não posso... Grito em silêncio, baixinho, para dentro, mas grito e
derramo uma lágrima de desespero. Queria poder, mas não posso... Grito até me
faltar o ar e não conseguir respirar... Tudo em silêncio para não acordar
ninguém. Queria poder, mas não posso. Nem sei bem o que quereria mudar, o
que poderia fazer se pudesse... Apenas o facto de não poder vira numa vontade
de querer! Queria poder, mas não posso. Pelo meu rosto passa uma brisa, a
lágrima que deito não se vê, só eu a sinto... Mas sinto com tanta força
que choro, tudo numa triste surdina... Queria poder, mas não posso. Abre-se uma
ferida que só é tocada por mim... Abre-se uma ferida disfarçada por um sorriso
vivido e treinado por muito tempo. Queria poder, mas não posso! E não posso... E
fui eu fiz isto assim, fui eu que deixei... A culpa é minha e agora
queria poder, mas não posso. Fui eu e so eu que permiti, fui eu só eu que me
deixei levar. Fui eu que não me segurei o suficiente e me deixei ir. Agora
queria poder, mas não posso. Queria porque sou mimada e sempre quero o que quero,
porque quero... e agora tenho um muro a minha frente e não posso voltar
atrás... Queria poder, mas não posso. Ele bate com força, quebra barreiras e tira-me o ar,
quase que salta do meu corpo para fora com o querer que não é poder. Sozinha
caminho, não quero ninguém , não posso ter companhia porque queria poder, mas
não posso e falar é proibido. Desculpa, queria poder, mas não posso... abro a
boca mas a voz não sai... Não posso, não posso... E vou na estrada das
metáforas e encontro um pensamento e... acelara-me o coração. Queria poder, mas não posso e a velocidade com
que passa no meu córtex cerebral é assustadora e revela-se apenas para mim... Queria poder, mas não posso... Um
pensamento passa e ninguém o consegue ver, mas as acções são o que nos definem e
o que definem pensamentos... Quase que quebro, mas não posso! Talvez se eu
fizer uma acção contrária ao meu pensamento possa assim matá-lo.. Mas Não!!
Queria poder, mas não posso. Não consigo porque a velocidade é estonteante...
Acelara-me o coração e quebra-me o pensamento que eu não quero mais... Quero esquecer,
quero reviver e reinventar o passado que teima em estar presente e moldar o meu
futuro... Quero ser eu. Quero gritar e sentir de verdade. Queria poder, mas não
posso e isso revolta-me e esta raiva toma conta de mim e dos meus olhos ao
ponto de se fecharem... Queria poder mas não posso. Faltam-me as forças nas
pernas... Não quero que me levantem... Simplesmente não... Quero ficar deitada
a chorar lágrimas silenciosas... Mas queria poder, mas não posso!!! Faltam-me
as forças, deixo-me cair e fico ali num canto... Deixo-me estar encostada na
esquina a sarar a ferida disfarçada pelo sorriso... Queria poder, mas não
posso. Faltam-me as forças e não seguro a cadeira e caio ainda mais, deixem-me
cair e ficar naquele buraco, talvez ali tenha uma solução para o meu querer
...mesmo sem ver, sem ar, sem forças nas pernas, sem poder um querer tão
grande.. Talvez ali peça um desejo, talvez venha uma amnésia selectiva
que me faça esquecer e finalmente já não queira mais... Não quero querer com
esta força.... Não quero mais, já chega. Só quero poder dizer: Posso mas não
quero!!
Aurora Coelho
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